TIM MAIA: MAIS VIVO DO QUE NUNCA





    “Não sei por que você se foi, quantas saudades eu senti”. Lembrar desses versos hoje é algo muito significativo, pois há exatos 23 anos, calava-se uma das mais poderosas vozes da música brasileira. Em 15 de março de 1998, Sebastião Maia, o inesquecível Tim Maia, despediu-se dos palcos e da vida.
No entanto, hoje é dia de celebrarmos não o aniversário de sua morte, mas a alegria da sua existência e o seu legado artístico deixado.

    O carioca nascido em 1942 imortalizou sucessos como “Azul da Cor do Mar”, “Você”, “Me dê Motivo” e “Gostava tanto de Você”, que transformaram-se em clássicos do nosso cancioneiro popular, deixando sua marca registrado nos ouvidos e corações de milhões de brasileiros.
Sua voz grave e rouca de barítono, bem como, o seu estilo único, o colocaram no panteão dos maiores cantores do Brasil, ao lado de Orlando Silva, Nelson Gonçalves, Cauby Peixoto, Emílio Santiago e tantos outros.

    Influenciado, incialmente, pelos vozeirões da Era do Rádio, da qual Orlando, Nelson e Cauby faziam parte, e depois, pela música negra norte-americana, o “Síndico”, como ficou conhecido, foi o precursor do soul e do funk no país, influenciando talentos do calibre de Tony Tornado e Gerson Combo.

    Um de seus funks mais celebrados é “Não vou Ficar”, gravado e lançado por Roberto Carlos, no final da década de 60, quando a Jovem Guarda começava a declinar e o então “Rei da Juventude” quis dar uma guinada em seu repertório, numa fase de transição que culminaria na música romântica.

    Aliás, Tim e Roberto, que eram contemporâneos, foram muito amigos na adolescência e início da juventude. Foi Tim, por exemplo, que lhe ensinou uma batida mais “roqueira” no violão - tocando “Long Tall Sally”, do icônico Little Richard -, já que ambos eram fãs de Elvis Presley, o Rei do Rock, que era o maior sucesso em todo o mundo à época. E ainda, nesse período começaram a tocar juntos no moderno conjunto Sputniks, da qual também faziam parte Arlênio Lívio, Edson Trindade e Wellington Oliveira.


    Mas, foi em viagem aos Estados Unidos que o Tião, finalmente, se “encontrou”. O contato com a obra de James Brown, Ray Charles e semelhantes mudaria sua vida para sempre, e o levaria a tornar-se, dentre outras coisas, o “Pai da Soul Music do Brasil”.

    A partir de 1970, com a ajuda de Elis Regina, tornou-se um dos artistas mais populares e amados de todos os tempos. Se por um lado, as críticas eram pesadas, por outro, o amor do público tornava as coisas mais leves. Passou a ser presença constante em programas como “Cassino do Chacrinha”, “Clube do Bolinha”, “Almoço com as Estrelas” e “Flávio Cavalcanti”, além de frequentar as paradas de sucessos nas rádios e bater recordes em vendagens de discos.

    Ao longo de quatro décadas de carreira, o grande cantor, considerado o melhor pela Revista Rolling Stone Brasil, imprimiu personalidade na sua voz e nos seus gestos. Considerado alguém de temperamento difícil, não foram poucos os seus desentendimentos com amigos, colegas e empresários, o que lhe fez perder oportunidades de trabalho e passar por diversas gravadoras, até o final da vida. O pai de Léo Maia e tio de Ed Motta também tinha o costume de faltar shows, entrevistas e demais compromissos. Mas, nada que não fosse suplantado pelo seu enorme talento, que pode ser apreciado nos mais de 30 long-plays (LP’s) gravados, que somam quase 300 músicas.


    Cantor versátil, de veia moderna e, ao mesmo tempo, popular, deu voz às alegrias, aos amores, desamores e insatisfações do povo em suas célebres canções. Seu ecletismo era tanto que chegou a incorporar elementos da disco music bum de seus álbuns mais festejados, o “Disco Club”. Alguns de seus duetos também entraram para a história, como “Um dia de domingo” (Michael Sullivan/Paulo Massadas), com Gal Costa; “These are The Songs” (de sua própria autoria), com Elis e “Renúncia” (Francis Rossi/Martins) com Nelson Gonçalves.

    Mestre de muitos discípulos, muito imitado, mas nunca igualado, ainda hoje, após mais de duas décadas de sua morte, continua vivo na alma de seu público e disponível para ser desfrutado por quem puder e quiser ouvi-lo. Não à toa, coleciona milhões de visualizações no YouTube e está entre os artistas mais escutados em plataformas digitais, como Deezer, Spotify e Apple Music. A voz forte e imponente de Tim Maia continua ecoando do “Leme ao Pontal”, tal qual “um descobridor dos sete mares” vivendo um “sonho todo azul, azul da cor do mar”.

Texto: Davi Vieira

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