Postagens

120 ANOS SEM CLEMENTINA DE JESUS

Imagem
“Eu não sou daqui, marinheiro só. Eu não tenho amor, marinheiro só. Eu sou da Bahia, de São Salvador”. Estes versos se imortalizaram no vozeirão grave e rouco de Clementina de Jesus, nascida em Valença, que completaria 120 anos na data de hoje, se viva estivesse. Revelada aos 63 anos, pelo produtor, compositor e historiador musical Hermínio Bello de Carvalho, a nossa querida Rainha Quelé saiu do anonimato e converteu-se numa das maiores expressões da música popular brasileira. Neta de escravos da região de Diamantina (MG), ex-empregada doméstica, lavadeira e mulher negra simples do povão, Clementina foi, nas palavras do professor Darcy Ribeiro, “a voz dos milhões de negros desfeitos no fazimento do Brasil”. Ela trazia na garganta o canto forte e reprimido da população que carregou este país nas costas, ao longo de três séculos, às custas de penosos e forçados trabalhos. Nela, estava presente a própria história do nosso país! Apesar de católica fervorosa e devota de Nossa Senhora da Con

A MULHER DO FIM DO MUNDO SERÁ ETERNA E CANTOU ATÉ O FIM

Imagem
 No início dos anos 50, uma jovem pobre e negra subiu ao o palco do show de calouros de Ary Barroso. Subestimada pela sua aparência e condição social, a moça que, àquela altura, já era mãe e viúva, e precisava trabalhar para sustentar seus filhos, foi humilhada. O compositor de “Aquarela do Brasil” perguntou-lhe: “De que planeta você veio?”; ao passo que ela respondeu-lhe: “Do mesmo planeta que o seu, o planeta Fome!”. Após dizer isso, toda a plateia entusiasmada que ria dela, deliberadamente, calou-se, para ouvi-la cantar. A música escolhida foi “Lama”. Ao fim do número, a então caloura foi ovacionada e apontada como “nova estrela da música”. De fato, Elza da Conceição Soares, que nos deixou hoje, neste dia de Oxóssi, aos 91 anos, foi uma estrela! Na verdade, uma das grandes estrelas da música brasileira! Melhor ainda, uma constelação! Da Vila Vintém para o mundo, ela mostrou a força da mulher negra brasileira, com todas as suas venturas e desventuras, através de seu canto forte e exp

UM SALVE AOS 80 ANOS DE BENITO DI PAULA

Imagem
No início dos anos 70, despontou no Brasil uma nova forma de se fazer samba. O gênero, àquela altura, já não era o mesmo de décadas passadas. A essência continuava igual, mas as formas de execução eram diversas. Já havia os sambas sincopado, canção, quadrado, rasgado, sambalanço, samba-rock, a própria Bossa Nova, dentre outros. Eis que apareceu o samba-joia!  Em plena ditadura militar, um jovem de pele branca, cabelos revoltos, barbudo, trajando smoking, tocando piano e cantando com um vozeirão de barítono conquistou as paradas de sucesso em todo o país. Tratava-se de ninguém mais, ninguém menos, que Benito di Paula! O fluminense de Nova Friburgo, nascido em 1941, que cresceu ouvindo Nelson Gonçalves, Cauby Peixoto e Angela Maria, e que hoje completa 80 anos, ditou moda, ao emplacar hits como “Retalhos de Cetim”, “Além de Tudo” e “Mulher Brasileira”, todas de sua autoria. Amado pelo público e rechaçado pela crítica especializada - já que era considerado “brega” ou “cafona”, por ser um

OS 100 ANOS DE DICK FARNEY

Imagem
 “Copacabana, princesinha do mar. Pelas manhãs tu és a vida a cantar”. Esses versos de Braguinha (1907 - 2006) e Alberto Ribeiro (1902 - 1971), que exaltam uma das mais famosas praias do Rio de Janeiro e do Brasil, marcaram o primeiro grande sucesso de Farnésio Dutra e Silva; ou melhor dizendo, Dick Farney (1921 - 1987), que completaria 100 anos na data de hoje. Pianista de formação erudita e com uma veia jazzística, com sua voz grave, aveludada e suave, Dick foi moderno para seu tempo e fez história na música brasileira. Depois de Mário Reis (1908 - 1981) - que surgiu juntamente com o microfone e a gravação elétrica, em 1927 - e Orlando Silva (1915 - 1978) - o célebre “cantor das multidões”, que despontou no início dos anos 30 -, é um dos maiores revolucionários do cancioneiro popular nacional em sua fase pré-Bossa Nova.  Uma década antes do surgimento oficial do movimento que mudaria os rumos musicais do país para sempre, Dick já mostrava um repertório diferenciado harmônica e melodi

QUATRO DÉCADAS SEM MÁRIO REIS, O REVOLUCIONÁRIO BACHAREL DO SAMBA

Imagem
   Quando a Casa Edison, subsidiária da gravadora Odeon, começou a operar no Brasil, no início dos anos 1900, teve início no país o processo mecânico de gravações. Como não havia microfone, os cantores precisavam ter um alto volume de voz para que conseguissem gravar os fonogramas. Era a época de Bahiano, Eduardo das Neves, Paraguassu e Mário Pinheiro. Mas, o rei da potência vocal e da popularidade foi Vicente Celestino. A qualidade do som, levando-se em conta a precariedade dos recursos e as formas rudimentares, não era das melhores. Tanto que alguns discos do período em questão são, praticamente, indecifráveis.  A situação melhorou um pouco, no final dos anos 20, com o surgimento da gravação elétrica, já com uso do microfone (que substituiu o autofone) e uma nova aparelhagem, que possibilitava uma melhor qualidade de som. Assim, extinguiu-se a imprescindibilidade da potência vocal para gravar discos. Nesse contexto, despontou Francisco Alves - que já vinha do processo mecânico e cant

O REI DO RITMO, ETERNO JACKSON DO PANDEIRO

Imagem
 “Eu só boto bebop no meu samba quando o tio Sam pegar no tamborim”. Esses versos do compositor Gordurinha, protestam contra a americanização da música brasileira sem que esta possa, também, influenciar a música estrangeira, sobretudo, a americana. E ninguém melhor que Jackson do Pandeiro, um artista genuinamente brasileiro, que nasceu há exatos 102 anos, para interpretar e imortalizar o referido samba, “Chiclete com Banana”. José Gomes Filho, nascido em 1919, foi, e ainda é, um dos maiores representantes dos ritmos do nosso país, principalmente, daqueles que são típicos do nordeste. Côcos, rojões, baiões e xaxados sempre foram indissociáveis de sua figura e indispensáveis de seu vasto repertório. E como se isso não bastasse, o paraibano de Alagoa Grande ainda executava, e muito bem, o samba. Com uma voz bem dividida e uma percussão invejável que o colocava no panteão dos maiores ritmistas de todos os tempos, recebeu a alcunha de “Rei do Ritmo” - título que também pertenceu ao cantor M

CAYMMI: O ROSTO, A VOZ E A ALMA DO BRASIL

Imagem
Há exatos 13 anos, o Brasil despedia-se de um dos mais ilustres personagens de sua história. O baiano Dorival Caymmi, cantor, compositor e instrumentista, construiu uma das mais importantes obras do nosso cancioneiro popular, enriquecendo a musicalidade de nosso povo e imortalizando seu nome na galeria dos heróis da cultura nacional. Ensinar a Carmen Miranda “o que é que a baiana tem” já é, por si só, uma glória. Todavia, o legado do marido de Stella Maris e pai de Dori, Danilo e Nana Caymmi é ainda maior. Com uma linguagem simples e, ao mesmo tempo, profunda - ponto em comum com o carioca Cartola -, ele soube retratar, como ninguém, nas letras e na voz grave de baixo-cantante, os hábitos, costumes e tradições de sua Bahia, bem como, as reminiscências dos gêneros populares negros, temas religiosos de matriz africana (era devoto do candomblé) e exaltações aos elementos e fenômenos da natureza, sempre com riqueza de melodias e um estilo muito original e particular. Basta ouvirmos “O Samb