DIA DO CHORO - UMA HOMENAGEM A PIXINGUINHA

                             


 Hoje, na grande maioria dos karaokês, uma das músicas mais pedidas e cantadas é “Evidências”, composição de José Augusto imortalizada nas vozes de Chitãozinho e Xororó, no final dos anos 80. É um clássico absoluto, conhecido e apreciado por todos os gêneros, faixas etárias e classes sociais.

 Porém, muito antes da referida canção ganhar forma e corpo, um belíssimo choro ocupava o seu posto. Tratava-se de “Carinhoso”, obra-prima do nosso cancioneiro popular, composta em 1917, pelo grande mestre Pixinguinha - e que receberia letra de João de Barro posteriormente, sendo lançada por Orlando Silva -, que hoje completaria 124 anos, motivo pelo qual comemora-se nesta data o “Dia do Choro”.

 Pixinguinha, cujo significado do apelido é “menino bom”, nasceu Alfredo da Rocha Vianna Filho, em 1897, no Rio de Janeiro, foi maestro, flautista, saxofonista, compositor e arranjador. Contemporâneo de Donga e João da Baiana, dois dos arquitetos do samba, ele elevou a cultura nacional a um nível de excelência. Responsável por algumas das mais belas páginas da história musical brasileira, ele contribuiu para a formação e definição do choro enquanto gênero e vertente, mas também foi importante para o próprio samba, o maxixe e a valsa.

 Vindo de uma família de músicos, sua carreira teve início em plenos anos 10, nos cabarés da Lapa, casas noturnas, salas de cinema e teatros de revista, tocando flauta transversal, instrumento com qual Patápio Silva consagrara-se na década anterior. Também tocava cavaquinho e bandolim, além de dominar os conhecimentos de teoria musical, adquiridos a partir de seus estudos no Instituto Nacional de Música e muita dedicação ao ofício. Antes de 1920, passou pelo grupo Caxangá e formou, ao lado de Donga e outros astros, o conjunto Oito Batutas, com o qual fez turnês na Argentina e na França. Depois, transformou-se numa das mais figuras mais importantes e emblemáticas da cena musical do país, com reconhecimento internacional.

 Considerado moderno para a sua época e muitas vezes criticado por suas influências jazzísticas, Pixinga, como era chamado carinhosamente pelos amigos, criou pérolas, a exemplo de “Lamentos” (que receberia letra de Vinicius de Moraes), “Naquele Tempo”, “Gavião Calceiro”, “Yaô” e “Batuque na Cozinha”, que registraria em disco na década de 60, ao lado dos parceiros João da Baiana e Clementina de Jesus, alçada ao sucesso pelo pesquisador Hermínio Bello de Carvalho. “Rosa”, valsa que Orlando Silva imortalizou em 1937, pelo selo RCA Victor, e várias vezes regravada (sendo a releitura de Marisa Monte uma das mais cultuadas) é o seu maior sucesso depois de “Carinhoso” e merece uma menção honrosa, tanto por esse fato, quanto por tratar-se de uma suposta parceria sua com o mecânico Otávio de Souza, o que até hoje intriga o público, que parece duvidar da parceria e julgar, no mínimo, curioso, que uma letra de tamanha beleza seja composição de um mecânico. 

 Virtuosíssimo e com uma enorme capacidade de improvisação, por trabalhar com vários músicos que não sabiam ler partituras, teve um de seus grandes momentos em sua passagem pela gravadora RCA Victor, como arranjador, onde criou arranjos incríveis em gravações de Francisco Alves e Mário Reis. Justamente, nesse período, desenvolveu uma linguagem de orquestra tipicamente nacional. Também chegou a integrar o regional de Benedito Lacerda, desta vez, tocando saxofone tenor. Tocando esse instrumento, interessou-se pelo jazz e foi parar nos EUA, onde firmou amizade com Louis Armstrong, lenda do gênero, mas sem perder a essência de sua musicalidade regional. 

 Ao longo de seis décadas de trabalho, influenciou nomes fundamentais da nossa música: a cantora Ademilde Fonseca, o cavaquinista Waldir Azevedo, o flautista Altamiro Carrilho, o bandolinista Jacob do Bandolim, o clarinetista Abel Ferreira e o violonista Dino Sete Cordas. Todos os grandes músicos, de alguma forma, beberam da sua fonte e foram envolvidos pelo poder do seu talento. Nas palavras do maestro Radamés Gnatalli, “Choro tem muito por aí, mas bons mesmo são os do Pixinguinha, e não é porque são mais elaborados, é porque ele era um gênio”.

 Muito mais que o autor de “Carinhoso”, a música mais gravada no Brasil, segundo o ECAD, Pixinguinha é sucesso ainda nos dias atuais e alvo de muitas homenagens, em rodas de samba, choros, no Prêmio da Música Brasileira ou com a Ordem do Mérito Cultural. Ele é uma das glórias brasileiras das quais devemos nos orgulhar sempre. O Brasil é um grande celeiro de talentos para o mundo inteiro. Daqui saíram estrelas que brilharam e brilharão para sempre. Sem dúvidas, Pixinguinha é uma delas. Nunca é tarde para celebrarmos a existência e o legado de artistas como ele! Viva Pixinguinha! Viva o Choro! Viva a música brasileira!

Texto por Davi Vieira

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