OS 30 ANOS SEM GONZAGUINHA E A SAUDADE NO CORAÇÃO
“Só quero ver as pessoas assoviando as minhas músicas”, esta foi uma das últimas declarações de Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior, que nos deixou há exatos 30 anos.
Nascido no Rio de Janeiro, em 1945, e filho de Odaleia Guedes e Luiz Gonzaga, o nosso Rei do Baião, o grande Gonzaguinha também seguiu a carreira artística e, assim como seu pai, foi um dos maiores artistas brasileiros.
Compositor de linguagem profunda e carregada de sentido, sabia como ninguém abordar os amores, desamores e dramas da vida, que Vinicius de Moraes chamava de “arte do encontro”, como podemos observar em “Grito de Alerta”, que Maria Bethânia imortalizou em 1978 e “E Vamos à Luta” e “Sangrando”, ambas lançadas por ele próprio em 1980. Também era capaz de fazer críticas ácidas ao sistema político-social vigente do seu tempo e que, de certa forma, como em “É”, que brilhou na voz grave de Simone, em plena redemocratização então recém-nascida.
Semelhante ao que ocorrerá com colegas como Chico Buarque e Geraldo Vandré, sua veia crítica rendeu-lhe problemas com a Ditadura Militar, nos anos 70, quando esteve na mira do DOPS e sofreu censura em boa parte de sua obra, inclusive, o seu primeiro sucesso, “Comportamento Geral”.
Cantado por vozes como as de Elis Regina, Gal Costa, Fagner, Cauby Peixoto e Zizi Possi, com o pai, firmou uma de suas parcerias mais celebradas, gravando o álbum “Pai e Filho”, no qual destacou-se a faixa “A Vida do Viajante”, que marcou a reconciliação de ambos, após vários desentendimentos familiares, que o levaram a buscar refúgio em bebidas e drogas, pelas ruas da Lapa. Reconciliados, ambos passaram a ter um relacionamento mais tranquilo. Eles fizeram o Brasil cantar assim: “minha vida é andar por este país, pra ver se um dia descanso feliz”. É claro, o inesquecível refrão: “e a saudade no coração”. Saudade, aliás, é o que astros como os dois causam quando partem.Gonzaguinha teve uma vida tão intensa quanto as suas canções. Formou-se em Economia, pela Universidade Cândido Mendes, mas nunca exerceu a profissão. Casou-se duas vezes e teve quatro filhos, dentre os quais, Daniel Gonzaga, cantor e compositor. Uma de suas filhas foi fruto de seu relacionamento com a atriz Sandra Pêra. Chegou a desentender-se em várias ocasiões com amigos, colegas e empresários, o que levou a tornar-se um artista independente e abrir a sua própria gravadora, que operava com o selo Moleque, através do qual lançou dois discos.
Idiossincrasias à parte, o que importa para o seu público é a genialidade que imprimiu em seu trabalho, que é o maior legado deixado para o mundo.
Gonzaguinha nos ensinou a ficar com a “pureza da resposta das crianças”, a acreditar nos “artistas da vida”, que seguem em frente e seguram o rojão, que apesar dos pesares, ainda se orgulham de ser brasileiros e dizem que a vida é bonita e é bonita. Aprendemos a viver e “não ter a vergonha de ser feliz”, a “cantar e cantar e cantar na beleza de ser um eterno aprendiz”, começando tudo outra vez, se preciso fosse. Afinal, “a gente não tem cara de panaca, nem deixo de babaca”, pois “a gente quer viver a liberdade, a gente quer viver felicidade”. Viva Gonzaguinha!
Texto por Davi Vieira
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