QUINZE ANOS SEM AS CORDAS DE DINO

 


 O Brasil é um celeiro de grandes artistas, sobretudo, de grandes músicos. Alguns deles são muito celebrados e rememorados, como é o caso de Antônio Carlos Jobim e Pixinguinha. Outros, sequer são mencionados, em detrimento da memória nacional e das novas gerações, que perdem a oportunidade de conhecer os seus trabalhos.

 Um desses artistas é o grande Horondino José da Silva, mais conhecido como Dino Sete Cordas, que consagrou-se como a maior referência para violonistas, fazendo escola, ao lado de Dilermando Reis, Garoto, Baden Powell e João Gilberto, e tendo como discípulos nomes como Yamandu Costa e Raphael Rabello (que também se tornaria referencial). Este último, ao referir-se ao mestre, disse o seguinte: “Quando ouvi o Dino tocar, tive certeza do que eu queria fazer em música. Tive certeza de que eu queria tocar violão; acabaram-se as dúvidas”. 

 O carioca nascido em 1918 e falecido em 2006, há exatos quinze anos, desenvolveu linguagem própria e técnica impecável no instrumento com o qual fez história, o violão de sete cordas, o qual aprendeu a manejar de forma autodidata, brilhando em regionais como o de Benedito Lacerda e o Época de Ouro, bem como, acompanhando cantores do quilate de Orlando Silva, Nelson Gonçalves e Elizeth Cardoso, quando fazia suas famosas baixarias, contrapondo as melodias, utilizando as cordas mais graves. Importante para o samba e o choro, trabalhou ao lado de músicos como Augusto Calheiros, o cantor que o apadrinhou e que possibilitou o seu ingresso no meio musical e artístico em geral; Jacob do Bandolim, que lhe sugeriu usar o “sete cordas” no nome artístico; Caçulinha, multi-instrumentista, com quem dividiu os arranjos no álbum “Serenata”, de Nelson Gonçalves, e Altamiro Carrilho, considerado pela crítica o maior flautista brasileiro. 

 Também atuava como compositor e arranjador, sendo um de seus trabalhos mais importantes a criação dos arranjos irretocáveis do primeiro, e tardio álbum do mestre Cartola, gravado e lançado em 1974, pelo selo Discos Marcus Pereira, destacando-se faixas como “Sim”, “Acontece”, “O Sol Nascerá” e “Alvorada”, em que se pode constatar a sua genialidade de instrumentista merecidamente aplaudido e reverenciado, que durante mais de 60 anos manteve-se ativo e produtivo, sempre prezando pela qualidade.
 Figuras como Dino representam um Brasil talentoso e cheio de glória, que produziu talentos incomparáveis que encantaram o mundo. Mas, também são atemporais, pois suas obras transcendem os limites impostos pelo tempo e se impõem pela grandeza. As suas sete cordas estão para a música brasileira, assim estão como a batida de João Gilberto, o sax-tenor de Pixinguinha, o piano de Heitor Villa-Lobos, a sanfona de Luiz Gonzaga e o pandeiro de Jackson. Seus arranjos e baixarias são marcas indeléveis no cancioneiro popular deste país, que é tão gigante, mas que se contenta com muito pouco. Lembrar figuras como Dino é muito mais que valorizar a história cultural nacional, mas garantir que outros músicos geniais surjam a partir de sua influência e manter viva a consciência de que somos o povo mais musical do planeta.


Texto por Davi Vieira

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Instrumentos Exóticos: O Dulcimer dos Apalaches

1º de Outubro. Dia Internacional da Música

16 de abril: Dia Mundial da Voz